
Ao cabo de um primeiro nível de participação olímpica marcado por fracos resultados, declarações infelizes e provocatórias, Vanessa Fernandes consegue a primeira medalha para Portugal em Pequim’2008. Prata na modalidade de triatlo.
É um feito que orgulha o País, não exactamente e apenas pelo lugar no pódio, depois de uma prova em que a australiana
Snowsill mostrou grande poder competitivo e uma estratégia brilhante (fortíssima e sagaz nas “transições”), mas pelo que ele representa: seriedade, humildade, combatividade, coragem, sofrimento, dedicação. E ainda: noção de que a responsabilidade de representar o País é muito mais do que servir interesses político-partidários para alavancar resultados eleitorais; é muito mais do que utilizar discursos de optimismo sem sustentação.
Vanessa não é melhor desportista depois de conquistar a sua primeira medalha, aos 22 anos. Já sabíamos do seu empenho e determinação. Da forma afincada como trabalha. Todos nós sentimos que Vanessa iria dar o máximo. Porque ela é uma mulher que põe um salto alto sem perder a genuinidade.
Porque quando põe um salto alto não deixa de ter os pés bem assentes no chão.
Vanessa é uma mulher jovem que representa o exemplo. O exemplo que deveria servir para refundar a asfixiante mentalidade portuguesa, muito virada para as invejas e as intrigalhadas.
Um dia escrevi: “O futuro é das mulheres”. Os homens já dominaram os homens e as mulheres. É tempo de o Mundo dar uma oportunidade às mulheres. Às grandes mulheres do Universo. É assim que eu vejo a conquista da Vanessa: como uma resposta inequívoca às cigarras da vida e do desporto; uma resposta estimulante, no feminino, perante os batoteiros de uma sociedade hipócrita, cada vez menos sensível ao sucesso dos seus semelhantes.
O desempenho e as ideias de Vanessa, no sentido da crítica à lassidão, são mais fortes e perturbantes do que qualquer declaração política.
Vanessa Fernandes é uma referência de uma nova mentalidade que o País e o Desporto português necessitam. Uma espécie de código para o futuro. Estou certo de que Rosa Mota concorda comigo.
Rui Santos