Menino Grande
Também eu, também eu.
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos…
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!,
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se eu riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso…
(Eu tinha um bibe azul…
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios…
A minha Mãe ralhava assim como quem beija…
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede…)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe…
(Sebastião da Gama)
1 de Junho…Dia Mundial da Criança. De todas elas!
Só que continuam muitas sem saber o que é isso de se ser criança. E, lembro aqui, de forma especial, todas as que vivem em campos de refugiados, as escravizadas, as que morrem de fome e de doença, as que não são nunca seres humanos com a dignidade que merecem. Essas, que nunca saberão o que é ser criança mas, que nunca saberão o que é ser adulto também!
Estes dias exigem que, a par dos festejos às nossas crianças, sensibilizemos quem nos rodeia para aquelas que são discriminadas. Mesmo na nossa sociedade europeia vão surgindo, clandestinamente, posturas abomináveis de maus-tratos infantis.
Às vezes, não podemos fazer muito, mas devemos alertar e lembrar que nem todas comemoram este Dia Mundial.
Como seria bom que, cada uma delas, pudesse um dia ler com um ternurento saudosismo, este poema de Sebastião da Gama!