
Vive-se hoje um desajustamento. As pessoas não se sentem representadas pelos partidos políticos. Na verdade, as pessoas não se revêem nos actuais partidos políticos.
Obviamente, isto não parece interessar os partidos políticos. Dominar o aparelho de governo basta-lhes, para servir as suas clientelas.
Fernando Rosas observou há tempos numa obra interessante (Pensamento e Acção Política)., que nos últimos duzentos anos, em Portugal, jamais os regimes políticos se reformaram, e pelo contrário, todas as mudanças da arquitectura do poder foram promovidas por modos revolucionários e violentos.
Cabe ao poder político, como evidenciava já há cerca de 2400 anos Platão, organizar a sociedade. Organizar uma comunidade política não significa que o Estado deve intervir em todas as áreas da sociedade. Organizar a sociedade pode implicar dar liberdade de acção aos agentes sociais, assegurando para o Estado um papel de supervisão e de promoção da equidade entre todos os elementos que compõem a nação.
Mas, organizar a sociedade, significa sempre promover a justiça e a promoção da justiça está intimamente ligada ao aprimoramento da equidade entre todos os membros de uma dada colectividade.
Hoje, a sociedade portuguesa vive num impasse. É evidente a todos que os partidos são incapazes de uma efectiva reforma da sociedade portuguesa.
Apesar das promessas, os modelos de desenvolvimento reais estão anquilosados, são negativos para a expansão sustentada da sociedade, e só reforçam, a longo prazo, o nosso proverbial atraso face às nações mais desenvolvidas da Europa.
Apostar num crescimento por via das obras públicas, tendo por base a construção de infra-estruturas físicas de betão, é um custo de oportunidade colossal. Será dinheiro lançado ao ar, sem retorno possível, porque os seus efeitos a longo prazo serão escassos, quando não, negativos.
É o que a ciência económica define como “rendimento decrescente”. Quanto mais dinheiro se investe, menos rendimento se extrai, quanto maior o “input”, menor o “output”.
Mas esta situação deriva do anquilosamento ideológico dos partidos. Sem terem de facto ideologia, meras máquinas de assunção ao poder, são incapazes de pensar a sociedade. E incapazes de pensar a sociedade, vivem ao sabor das necessidades do momento, preservar ou conquistar o poder, sem uma perspectiva de longo prazo, sem alguma capacidade de mirar o futuro. E sem visar o futuro, os partidos são incapazes de dispor e de pensar de um modelo de organização da sociedade.
Os partidos políticos, principalmente os partidos do arco do poder, são hoje um fardo na mudança de Portugal. Agrilhoam Portugal ao passado, são um empecimento ao seu futuro.
Em boa verdade, o sistema político português precisava de uma “revolução coperniciana”, que levasse de uma enxurrada os partidos actuais e os substituísse por gente nova, com outra visão, com um prisma de futuro para Portugal.
António Paulo Duarte
Notícias da Manhã