
O 15 de Maio é um dia de inegável tristeza para os corações de todo o mundo árabe e do povo palestiniano, pois cerca de metade foi forçado a emigrar e 726 mil cristãos e muçulmanos obrigados a viver em 58 campos de refugiados sob a supervisão da UNRWA (hoje são 4,5 milhões), mas em condições desumanas e humilhantes, o que torna toda a situação uma verdadeira vergonha perante a inércia da comunidade internacional.
Desde 1947, data da partilha da Palestina, até à actualidade, as Nações Unidas emitiram 249 resoluções a favor da causa palestiniana. Aquele período trágico e sangrento está documentado no livro do historiador israelita Ilan Pappe “A Limpeza Étnica na Palestina”.
Ao longo dos anos houve 81 vetos americanos no Conselho de Segurança, o que permitiu Israel torturar o povo palestiniano, tornando-o assim um Estado acima da lei, ao qual tudo é permitido, sem que seja questionado ou julgado. Com este tratamento diferenciado e um sentimento de injustiça, o povo palestiniano não abandona o sonho do regresso, enquanto os israelitas apostam no facto de os velhos irem morrendo e as novas gerações irem esquecendo... mas as gerações da Nakba continuam ligadas às aspirações de uma pátria e ao desejo do regresso reconhecido pela comunidade internacional e pelos direitos do homem como um direito individual e colectivo que não pode ser abandonado e guardam ainda os documentos das suas propriedades e chaves de suas casas - todos os povos vivem na sua pátria e a pátria vive nos seus corações.
Em relação àquela tragédia, se a comunidade internacional continuar a ignorar um assunto tão fundamental e Israel continuar a não assumir as suas responsabilidades legais e morais correr-se-á o risco do surgimento de uma situação drástica na zona que poderá pôr em causa a paz mundial.
Após 17 anos de negociações, a paz está longe e Israel continua a sua política de colonização, a adiar a implementação das exigências da paz, a construir colonatos e o muro de separação, a confiscar mais terras, a anexar Jerusalém, tendo igualmente recusado a iniciativa de paz árabe. A nossa participação no projecto de paz baseia-se na séria convicção de que a paz é possível e poderá ser uma realidade e não apenas um sonho. A paz que se deseja para ter sucesso terá de ser estabelecida com base na justiça. A causa dos refugiados, considerada o assunto de mais difícil resolução na história contemporânea, não é apenas um desafio às nossas aspirações e valores éticos, mas é, muito principalmente, onde reside a chave do futuro da região. A Palestina vive momentos difíceis. O mundo árabe tem preocupações internas. A Europa mantém o apoio financeiro à Palestina, mas ignora a componente política. Perante este quadro, Israel continua a beneficiar do total e incondicional apoio dos EUA.
Apesar de se recordarem agora os 60 anos da Nakba, os palestinianos não desistem e continuam a insistir no direito ao estabelecimento do seu Estado independente nos territórios ocupados em 1967 com Jerusalém oriental como capital e encontrar uma solução justa para a questão do regresso dos refugiados. O povo palestiniano nada mais pede do que aquilo que lhe foi concedido pelas resoluções das Nações Unidas, pela comunidade e legalidade internacionais de acordo com os direitos humanos se é que, e esperemos que sim, ainda exista algum respeito e consideração por aqueles conceitos e resoluções.
Randa Nabulsi
delegada-geral da Palestina
- Nakba significa catástrofe.