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Uma fotografia de Carla Bruni Sarkozy nua foi comprada por 58.000 €, mais ou menos o dobro do lucro médio de um traficante pela venda de um ser humano. Esse ser humano é, em regra, mulher ou criança. Também é, na maioria dos casos destinado à exploração sexual, muitas vezes em regime de escravatura.
Para fugirem à miséria, milhares e milhares de mulheres arriscam todos os anos colocar-se nas mãos das máfias, iludidas com falsas promessas de emprego nos países ricos e descobrindo-se, tarde de mais, numa engrenagem sinistra de que nunca mais vão libertar-se. Sucede com frequência que a intermediação é feita por pessoas do seu círculo próximo, familiares ou não, que recebem pela sua entrega aos traficantes. Outras são pura e simplesmente raptadas. Algo semelhante ao que acontece com os milhares de crianças que um dia desaparecem sem deixar rasto: roubadas, umas, outras vendidas pelas próprias famílias em desespero de pobreza e miséria humana, não raro enganadas também pelas redes criminosas com o falso pretexto de adopção.
Só nas últimas décadas a comunidade internacional e, em particular, a União Europeia – um dos destinos privilegiados de mulheres controladas pelas máfias -, começaram a enfrentar esta realidade e a adoptar medidas sérias para a combater. Uma coisa, porém, é identificar o crime, estabelecer sanções e punir os criminosos descobertos; outra, bem mais difícil, é evitar que o crime chegue a ser cometido. Tanto mais que o derrube das fronteiras vai tornando o mundo num espaço aberto, para o melhor e para o pior.
A prostituição existe desde sempre e desde sempre existiu também a escravatura sexual. Mas nunca este comércio atingiu as proporções que as estimativas de hoje apresentam: entre 700 mil e dois milhões de seres humanos transaccionados todos os anos, num comércio que gera lucros extraordinários: algo entre os 8 milhões e os 11 milhões de euros.
Mas o que tem a ver o tráfico de mulheres com a fotografia de Carla Bruni? Nada, na aparência: Afinal, a representação do corpo da mulher como objecto de prazer não é assunto de hoje nem exclusivo da nossa civilização. Entre as mulheres de Rubens e as fotos de modelos e actrizes nuas leiloadas pela Cristie’s, o passo não é tão grande que justifique um escândalo moralista. E, no entanto, só o facto de, nesta sociedade tão orgulhosa dos seus progressos humanitários, uma mulher ainda pode ser vendida como uma mercadoria e valer tão pouco, quando comparada com a foto de outra mulher, já nos diz alguma coisa sobre a hierarquia de valores a que chegámos.
Há outro ponto, ou contraponto, que permite associar o leilão da Cristie’s e o tráfico humano para a exploração sexual em larga escala. Ambos revelam e reflectem, a níveis diferentes e salvaguardadas as distâncias, uma cultura em que o corpo e o sexo têm uma presença pública crescente. E uma sociedade profundamente hedonista, que cada vez mais exalta e celebra o prazer pelo prazer, sem limite algum de ordem ética ou moral. Uma sociedade em que tudo se compra, vende e corrompe, em que tudo é encarado como mero objecto de consumo – seja a fotografia de uma certa mulher nua, seja o corpo nu de uma mulher qualquer, cujo destino nos é indiferente.
Fernando Madrinha
Courrier Internacional ( Maio 2008)